FRIDMAN, Fania. Breve história do debate sobre cidade colonial brasileira. A cidade como história: os arquitetos e a historiografia da cidade e do urbanismo. (org.) Eloísa Pinheiro e Marco Aurélio Gomes. Salvador: EDUFBA, 2004, p. 43-72.

O tema tratado por Fania Fridman em seu artigo é refletir sobre o que significa ser “brasileiro” durante o período colonial, período este que o Brasil ainda não era independente politicamente, e sobre a criação e evolução da analise sobre o passado das cidades brasileiras.
Fridman destaca a importância dos pioneiros nos estudos do Brasil colônia. Esse destaque se dá através da citação de dezenas de autores.
Capistrano de Abreu é o responsável pela idéia das fundações das vilas e cidades como um processo violento; Gilberto Freyre “formulou o primeiro estudo da vida urbana colonial”, indo de encontro a corrente oficial que se detinha mais na idéia rural; Caio\ trata da questão do interesse primordial da colonização portuguesa do Brasil: defender a terra da presença das outras forças ultramarinas (França, Holanda, Inglaterra e Espanha). Este tipo de defesa é feito pela iniciativa privada no sistema de capitanias hereditárias, sendo substituído, em seguida, pelo sistema de sesmarias; Oliveira Vianna retrata que as cidades (vilas) foram criadas a serviço do rei de forma a reunir os moradores dispersos; Pierre Defontaines comparou as vilas brasileiras com as bastides francesas, na qual se assemelhariam pela finalidade militar e pacifista; Pierre Monbeig mostrava a cidade como um organismo; Afonso Arinos de Melo Franco expõe que o núcleo populacional é formado pelo engenho, populações, igreja e transportes, gerando uma dispersão em termos demográficos; Aroldo de Azevedo questiona o clichê de a colonização portuguesa ter produzido resultados urbanos modestos; Mário Tavares aponta as influências renascentistas na colonização; Luis Silveira intui a “originalidade dos traçados urbanos coloniais” ; Robert Smith argumenta que as cidades coloniais eram desprovidas de planejamentos e desordenadas; Aurélio de Lyra Tavares enfatiza o papel dos militares e dos jesuítas, o primeiro pelas edificações e o segundo pela educação; Francisco de Paula Dias trata da “lacuna da influencia da legislação normativa e urbanística” ; Paulo F. Santos “afirma a inexistência de um traçado prévio nas cidades portuguesas” . Além disso, citou a influencia renascentista, bem como fez Mário Tavares; Por fim, Roberta Delson procurou destruir o mito da falta de planejamento português para com o Brasil.
Nos últimos 20 anos, a autora menciona outros autores importantes na historiografia da cidade colonial. O primeiro é Murilo Marx, responsável pelas analises das alterações no espaço urbano, seja em edifícios, seja nos traçados; Renata Malcher de Araújo retoma as idéias de Nestor G. R. Filho e Paulo F. Santos ao tratar do caráter militaristico da colonização, onde os engenheiros militares são responsáveis pelo “fazer cidades”; Maria Helena Flexor trata da urbanização baseada nos projetos do Marques de Pombal, com influencias ilumista-conservadora; Marcos de Arruda Câmara debate sobre os espaços de exclusão combatidos pelo poder real, citando o caso dos quilombos, formados por negros, e das aldeias indígenas; Walter Rossa demonstra que “Não havia distinção entre instalação militar e aquela de intenções urbanizadoras” ; Mauricio de Almeida Abreu compara a base urbana da América Espanhola em relação à da América Portuguesa; Fania Fridman, a autora do artigo, indica que “o território é resultado do poder político exercido pelas classes sociais” ; Finalmente, Beatriz Siqueira Bueno relaciona a história da cidade e do urbanismo como parte de uma história cultural.
Uma parte do artigo é totalmente voltada para Sergio Buarque de Holanda. Este também traz o embate entre o clichê português de ser desleixado com o espanhol que ladrilha. Na verdade, “a ação colonizadora foi uma adaptação continua a condições especificas do ambiente americano” .
Finalizando o artigo, Fania Fridman trata das perspectivas de pesquisa. Cita Milton Santos e o conceito de história da cidade versus história urbana. O primeiro se refere ao concreto, enquanto o segundo trata do abstrato. A autora acredita que “a divisão cidade-campo, que tem sido privilegiada em vários trabalhos, pode ser reavaliada” .

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