O Escafandro e a Borboleta (Le scaphandre et le papillon)

Primeiro: não sabe o que é um escafandro?


É toda essa roupa aí. Capacete incluso. Usada para mergulho.

Sobre o filme: O Escafandro e a Borboleta é baseado é um livro de mesmo título do autor francês Jean-Dominique Bauby... que é o personagem protagonista do filme. Entende? É UMA HISTÓRIA REAL (Eu não sabia disso, não tinha lido nada sobre o filme)!

A história começa Jean acordando em um hospital. Os médicos lhe fazem várias perguntas, ele responde a todas, mas é como se eles nem o dessem ouvidos. Poucos minutos depois percebemos que ele não pode falar. Ele não pode se comunicar! O corpo dele está COMPLETAMENTE PARALISADO. Só os olhinhos se mexem. Coisa bem triste mesmo, pois Jean está plenamente consciente.


Para ressaltar esse aspecto, a parte inicial do filme é toda mostrada na perspectiva do PERSONAGEM. Passamos, espectadores, quase uns 30 minutos observando o cenário, mas nunca o rosto do protagonista. Isso foi uma maneira sensacional que o diretor encontrou para nos sentirmos realmente NA PELE dele. Provavelmente para compreender algumas das atitudes (ou melhor, pensamentos) de Jean e empatizar com o mesmo.

Descobrimos que Jean sofreu um AVC. Como? Por que? O que ocasionou isso? Quem é Jean? Essas perguntas serão respondidas ao longo do filme e não há porque esclarecê-las aqui, senão perde a graça.

Podemos, contudo, falar das temáticas envolvidas. Num primeiro momento acontece aquele pensamento de "EU QUERO MORRER". Claro que você quer. Difícil é convencer alguém a realizar a eutanásia. Esse problema, entretanto, é abordado apenas superficialmente. Mas quem tiver interessado em ver um filme que fala sobre isso, recomendo MAR ADENTRO (The Sea Inside). Destaco o "diálogo" do médico com Jean, dizendo que a medicina atual pode "prolongar sua vida". A pergunta é: desde quanto isto é vida?


Lidar com a família, com amigos e estranhos é outro aspecto relevante do filme. O que as pessoas dizem para te incentivar, pode não ter o efeito desejado. As vezes o melhor é não dizer nada. Em certa hora, ele ouve alguém chamá-lo de "vegetal" e faz até uma piadinha "Vegetal? que tipo de vegetal sou eu?".


Há também a questão da vergonha do corpo. Todas as vezes que as enfermeiras e médicas vão passear com ele, acaba rolando um espelho no caminho. E é difícil evitar de se ver, porque quando você percebe, já se olhou, né? Jean odeia o que se tornou. Seu corpo, seu rosto, sua inaptidão. Pura vergonha.

Por fim, o ângulo mais importante é a questão da linguagem e comunicação. Apenas piscando os olhos, Jean escreveu o livro que dá origem a esse filme, mas como aconteceu isso? Olha, foi duro, viu? Sua fonoaudióloga desenvolve um método de comunicação que funciona da seguinte maneira:

Bauby aprendeu a se expressar com a ajuda de um código de comunicação desenvolvido por sua fonoaudióloga. Por ordem de uso na língua francesa, o alfabeto foi reorganizado da seguinte maneira: E S A R I N T U L O M D P C F B V H G J Q Z Y X K W. Com a ajuda de um emissor, que era muitas vezes o próprio receptor da mensagem, o alfabeto era assim soletrado para Bauby até que ele indicasse com o piscar do olho, um dos poucos movimentos preservados, qual letra queria usar para formar a palavra almejada. Por exemplo, se Bauby quisesse o nome da revista que ele trabalhou, ele iria piscar quando a letra E fosse falada pelo emissor. Em seguida, o emissor iria soletrar o alfabeto novamente. Bauby iria piscar quando a letra L fosse falada. Novamente o alfabeto seria soletrado e ele iria piscar quando a letra L fosse falada denovo. Restando apenas o E, ele iria piscar logo que o emissor começasse a soletrar o alfabeto novamente. Aí temos a formação da palavra ELLE. Com o passar do tempo, os receptores da mensagem já conseguiam completar o sufixo de muitas palavras automaticamente, e, mais uma vez utilizando códigos baseados no piscar do olho esquerdo, Bauby iria confirmar Sim ou Não. (Fonte)

Nesses tempos de internet, comunicação INSTANTÂNEA, FAST FOOD, onde a velocidade e o relógio ditam nossas vidas, imagine como foi SUPER TRABALHOSO ditar letra por letra apenas com o piscar dos olhos e organizar todas as ideias na cabeça ao mesmo tempo?

Respire fundo.


Com certeza recomendo esse filme. Um dos mais interessantes que já assisti. O lance da câmera em primeira pessoa mexe MUITO com o espectador. É impossível deixar de compreender o sentimento de invalidez.

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